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um longo poema sobre o nada

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um longo poema sobre o nada

em que escrevo sem pensar no que vai sair

eduardo furbino
Feb 26
3
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um longo poema sobre o nada

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oi, como você tá? como foi de carnaval? espero que tenha aproveitado bastante, de qualquer forma que seja.

essa semana decidi tentar algo diferente do que fiz nas últimas edições, escrevendo um único poema longo em vez dos fragmentos que geralmente te envio. a poesia longa fez parte do meu 2016 e 2017, época em que escrevi alguns poemas narrativos imensos (maiores até do que o que você vai ler aqui).

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como hoje em dia publico meus textos no instagram, acabo criando muita poesia curta, que é o melhor formato para aquela rede, mas confesso que tenho uma saudade imensa de escrever em fluxo de pensamento. foi exatamente o que fiz com o texto de hoje, providencialmente chamado um longo poema sobre o nada. ele foi escrito em uma única sentada e eu não fazia ideia de para onde o texto me levaria, antes de chegar à penúltima linha, quando finalmente entendi.

espero que você goste e que, se gostar, compartilhe com mais pessoas. até logo!


preciso me preparar para mais um domingo
há tanto a dizer entre feiras e páginas
às vezes a vida parece garapa azeda
extraída da memória do que era doce
quando se percebe que o agora será uma memória pior
do que o antes o ontem o que ficou para trás
joias cristalinas porque não podemos tocá-las
nenhum passado seria bonito se fosse livro aberto
um fato que a memória consegue consumir
e não algo que nos consome e faz sumir razão e paz
é preciso escrever para sobreviver
nada parece fazer mais sentido nada é breve
tudo é longuíssimo a espera das coisas
o jaguar insone as pernas com elevadores
as pernas que se abrem mais do que os olhos
no calar da noite conseguem se fechar
esse sim é um longo poema sobre o nada
porque nada mais faz sentido além disso:
da vontade de dizer o que sinto
essa vontade avassaladora
sem saber direito colocá-la em palavras
essa sim é minha efígie a lápide da sanidade
e espero que o que não está aqui aparentemente
se faça aparente quando você ler o poema quando tocar
a ponta do nariz para saber se ainda é real
se seu corpo ainda é um pedaço de carne
e não apenas um formigueiro de pensamentos
eu queria viajar com você para um lugar distante
queria intercalar meus sonhos com sua risada
queria descobrir o que há de mim em você
esquecer o que há de você em mim
queria tocar a ponta do seu nariz e tantas
tantas outras partes mais
queria que suas costas fossem uma rodovia
para as minhas mãos para a minha língua
para tudo o que desejo fazer passar pelo seu corpo
uma enxurrada de sensações que te façam lembrar de mim
quando eu me for quando tudo isso acabar
tenho muito medo do fim tenho muito medo de tudo
e tanta tanta tanta saudade do que imaginei
do que sonhei que seríamos
que ela impregna tudo o que faço cada momento
e transforma um insano e longo poema sobre o nada
em um poema sobre a dor de não sermos nós
eu queria te ver uma última vez
que fosse melhor que a última vez que te vi
eu queria te dizer o contrário de tudo o que disse
e quem sabe assim te daria uma razão para ficar
ou melhor ainda quem sabe assim me daria
uma razão para não ir embora antes do fim

uma música

a música que mais tenho escutado é não estaremos sós, da banda čao laru. é um som que, coincidentemente ou não, dialoga muito com o texto de hoje, com a ideia de solidão e separação, muito embora eu precise dizer que o desfecho da música é mais esperançoso que aquele que dei ao poema.

penso nos dois textos como um diálogo entre realidade e esperança, memória e sonho. gosto, especificamente, dessa estrofe aqui:

Enquanto houver espaço pro depois
O traço do amanhã a gente faz
Ao redor de nós
Quando o sinal fechar
Não estaremos sós

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